Palco vs Rua
- Matheus Sene
- 29 de mai. de 2019
- 3 min de leitura
Atualizado: 6 de jun. de 2019

Por baixo da lona eles são aplaudidos, e na rua quase são agredidos. A comparação entre os artistas circenses de rua e os do tradicional picadeiro.
Praça da República, 13h, e em cima de um picadeiro improvisado está Alan Rocha, de 21 anos, se apresentando para as pessoas, que mesmo com todo o caos da cidade, fotografam e filmam seu espetáculo ao ar livre.

“Estar debaixo de uma lona, onde a gente vê aquelas luzinhas brilhando, o povo chegando, gritando e aplaudindo, é tudo na vida.”
Já do outro lado do estado, estão os palhaços Rick Maluquinho e Kelly Lima, que fazem parte de um circo, nomeado de Rick Kelly, que passeia pelo Brasil, de teatro em teatro, para proporcionar um conforto maior ao seu público.

“Olha cada circo tem seu tipo de público, no nosso caso, do circo teatral Rick Kelly, são mais crianças e família”
Em uma metrópole como São Paulo, é comum encontrar profissionais circenses se apresentando fora da lona. Entretanto, ainda existem aqueles que optam pelo tradicional picadeiro. O Circonect acompanhou os desafios diários daqueles que tiveram que se reinventar para continuar levando sua arte à população, comparando com quem está nos palcos.
O dinheiro é um dos indícios que levam os artistas à rua, não pelo fato de ganharem mais, mas por gastarem menos. O circo teatral Rick Kelly optou por locar teatros em diversas cidades por achar os aluguéis de lote e impostos mais caros. Uma pesquisa feita por nossa equipe, no Imóvel Web, indicou que o preço do aluguel de um terreno, em Tatuapé, com 3.548 m² é de 20 mil reais. Além disso, é raridade um bom terreno vago em cidades grandes.

“Já me apresentei em escolas, bairros, ruas, picadeiros, abertura de lojas, enfim em diversos lugares”
Embora ocorra uma diferença de ambiente, o intuito sempre será o mesmo, levar diversão para as pessoas e distraí-las. Alan acha que estar na rua é uma alegria pelo fato de ver que aquilo será algo amigável, e que o público crescerá de acordo com algum tempo no local. Ele diz não focar em apenas um objetivo, mas alega que a arte circense é uma escola: “O circo é uma expansão de artes que você aprende. Eu aprendi perna de pau, palhaço, malabarismo e monociclo. Fui adquirindo conhecimentos novos e pessoas novas, que me ajudaram bastante nesse ramo. Talvez, se não fosse eles, não estaria onde estou hoje.”, afirmou o jovem.

“Você não imagina a sensação, a adrenalina que é subir em um picadeiro e ver aquele público na sua frente”
Genaldo Pessoa, que fugiu de casa aos 8 anos de idade para seguir carreira na arte circense, trata o picadeiro como a sua verdadeira alegria e paixão: “Me sinto orgulhoso em estar ali levando alegria para o público. Você não imagina a sensação, a adrenalina que é subir em um picadeiro e ver aquele público na sua frente, e você fazer todos sorrirem, fazer todos saírem felizes dali. É a melhor sensação do mundo.”, disse o circense conhecido no ramo como Forrozeiro da Mulesta. Genaldo pratica muitas artes circenses como equilíbrio, palhaço, trapézio, globo da morte e malabarismo.

“O circo é uma expansão de arte que você aprende praticando”
Rick descreve o espaço circense, com picadeiro, equipamentos de luz e som, barraca de pipoca, etc, como algo emocionante a quem se apresenta: “Estar debaixo de uma lona, onde a gente vê aquelas luzinhas brilhando, o povo chegando, gritando e aplaudindo, é tudo na vida.”, explica o palhaço. E na rua, Alan conta que recebe elogios e aprovações de muitas pessoas, entretanto, sempre encontra alguém que o trata mal: “Tem uns que são ignorantes com a gente, outros querem partir para cima. Mas, a gente só quer levar alegria para elas. Isso fere muito o nosso emocional, o nosso psicológico". Embora passem por grandes desafios em expor suas artes na rua, os artistas gostam deste ambiente. Thais Seres comprova isso, pois a jovem de 25 anos nunca fez parte de um circo e se apresenta no farol de uma das avenidas mais movimentadas de Jundiaí.

“Nunca me apresentei em circo. Sempre fiz minha arte na rua”
Os artistas de dentro do circo e os da rua são íntegros e apoiam uns aos outros. Genaldo comprova isso ao dizer que cada artista tem o seu valor e não há diferença entre eles, se não for a do ambiente. Rick concorda: “Tudo é válido. Tanto faz a gente estar na rua fazendo um espetáculo, dentro de um circo ou de um teatro”.
Alan tem perspectivas de crescimento e incentivo para a área desde que as pessoas se interessem em aprender o universo circense: “Se você for ver, arte circense está sendo muito expandida. Então a minha perspectiva para essa nova geração é que eles por si só criem o intuito de querer aprender e conhecer a arte circense", sonha o artista.
Texto: Matheus Sene.
Imagens: Matheus Sene/Acervo Pessoal.
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