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Mesclagem de arte: o circo dentro do teatro.

Atualizado: 4 de jun. de 2019


Conheça a companhia teatral Rick Kelly, que começou com a junção de Maurílio de Cayres e Eunice de Lima (Rick Cayres e Kelly Lima), duas pessoas apaixonadas pela arte circense. Maurílio desde pequeno já atuava na área, e já adulto, mesmo formado em administração e trabalhando em um banco, resolveu abandonar o cargo de gerente e dedicar-se totalmente ao circo.

No início eles trabalhavam debaixo de lona, mas como era muito difícil, decidiram levar o circo para dentro do teatro, e misturar os dois tipos de arte. Devido a crise econômica, a companhia perdeu alguns artistas, e hoje possui apenas cinco integrantes: Maurílio de Cayres, Eunice de Lima Cayres, Fabio Lopes, Anderson Garcia e Natasha Cavalcanti. Leia na integra o bate papo que tivemos com os fundadores desta equipe teatral e circense.


A companhia também mistura a arte circense com musicais.


CNT: Qual o seu principal objetivo fazendo arte circense?

Rick: O objetivo de fazer a arte circense é mostrar para as pessoas que realmente a arte é do povo para o povo. É uma arte sofrida, mas é uma arte milenária, que há muito tempo vem sobrevivendo, mesmo com grandes dificuldades. O pessoal sempre fala “o circo vai acabar”, mas jamais vai acabar, porque é uma arte milenária.


Circonect: Por que fazer arte circense dentro do teatro?

Kelly: Foi uma coisa que deu muito certo. Nós misturamos malabarismo, palhaço e acrobacias com a arte de interpretar, com espetáculos clássicos como Chapéuzinho Vermelho, Alto da Barca do Inferno e espetáculos circenses.

Rick: Com a dificuldade de achar terrenos e os impostos muito altos, optamos por estar dentro de um teatro. Que também cobra aluguel, porém é mais confortável, como o ar condicionado, por exemplo. O público gosta de estar dentro de um teatro, porque eles acham que é mais seguro e tem todo o conforto que precisam. Então, a gente leva para dentro do teatro, uma mala e aparelhos circenses, e transformamos o palco em um verdadeiro picadeiro de circo.


CNT: Como é a rotina de ficar transitando?

Rick: É muito interessante estar mudando de cidade para cidade, porque quando você chega lá e conhece pessoas novas, forma uma nova comunidade. Às vezes, ficamos apenas uma semana, e na hora de ir embora, a gente vê aquela criançada se despedindo, chorando e pedindo que a gente volte. Isso é muito para nós, é gratificante.


Rick maluquinho, o palhaço que trocou a vida de bancário pela vida de circense.


CNT: Como vocês tentam aumentar o público?

Rick: Olha, aumentar o público a gente não vai conseguir com seis pessoas. Um circo pequeno é difícil. Nós já temos um bom público, temos casa lotada direto, graças a Deus, mas para manter esse público a gente sempre tem que fazer um bom espetáculo, falando a linguagem deles, fazendo aquilo que eles querem ver, e estar sempre atualizando.


CNT: A arte circense traz algum recurso financeiro para você?

Kelly: É, vivemos exclusivamente da arte há 40 anos. Criamos 3 filhos, que se formaram em faculdade, um se formou em música, outro em artes plásticas e a uma é circense também, ela mora na Espanha, trabalha num circo conceituado por lá, chamado Circo Botani. Faz 6 anos que ela mora na Europa, e com a arte circense ela conseguiu comprar uma carreta, onde é feita a casa dela. Então nessa carreta bem grande, tem sala, cozinha, banheiro, dois dormitórios, ar-condicionado, etc. É bem completa a casa. Lá ela vive bem, melhor do que se estivesse aqui no Brasil.


CNT: Qual a experiência mais marcante para vocês?

Kelly: Foi em Sorocaba, há muitos anos atrás. Nós estávamos fazendo um espetáculo dentro do estacionamento de um shopping, e nos deparamos com um menino e uma senhora, avó dele. Quando terminou o espetáculo, ela veio chorando nos contar que o menino não falava há anos, devido ao acidente do pai de avião, desde aquele dia, o garoto ficou traumatizado. E quando viu o palhaço, ele sorriu e falou com o artista. A avó dele veio agradecer, pois a arte do palhaço foi tão viva e presente na vida do neto dela, que ela estava chorando de tanta felicidade. Isso foi gratificante para nós.


Eunice, conhecida no universo circense como Kelly, deixa alegria por onde passa.


CNT: A arte circense sofre algum preconceito?

Rick: Toda profissão tem um pouco de preconceito. Na realidade, o que acontece é que quando o circo é menor, a companhia é pequena, como a nossa, as pessoas pensam que a arte é diferente das demais. Então eles preferem digamos assim o Circo de Soleil os sendo que eles fazem a mesma coisa que a gente. A única diferença é que eles têm mais artistas e eles cobram bem mais caro. Nós cobramos o preço para pagar seis artistas, eles cobram o preço para trinta.


CNT: Como vocês acham que as grandes mídias enxergam a arte circense?

Rick: A grande mídia, não é só pela arte circense, se interessa por aquilo que dá audiência. Isso que eles querem. Por exemplo, a minha filha está lá na Espanha, fazendo circo, como o número dela é interessante, por mexer com fogo, ficar pendurada pelo cabelo, que é chamada arte capilar, a mídia se interessa por ela porque é algo que quando vai ao ar a audiência cresce demais. Portanto, a grande mídia é assim, se o artista está fazendo alguma coisa que dá audiência, eles vão atrás e se é apenas um espetáculo comum, eles não ligam muito.


CNT: De que maneira os circos podem se manter nos dias atuais?

Rick: Em primeiro lugar, ele tem que ter um bom espetáculo e ‘o boca a boca’ traz gente. Às vezes estreamos o espetáculo e não tem muito público, mas aumenta quando corre dentro da cidade “tem um pessoal legal aí fazendo teatro e circo”. E o espetáculo tem que ser novo todos os dias. Esses circos que ficam repetindo espetáculo todos os dias, eu acredito que eles não estão muito bem. Diferente de nós que todos os dias temos um espetáculo novo, que a mesma pessoa que assistiu na quinta-feira pode voltar na sexta que será diferente, pode voltar no sábado não será igual. Então, eu acho que a melhor maneira de manter o público é fazendo um espetáculo novo e alegre, e que o ‘boca a boca’ seja a favor.

CNT: Quais as perspectivas que você tem para a arte circense nessa nova geração?

Rick: Espero que eles tenham a sorte que nós tivemos ou até mais sorte. E não devem ficar querendo copiar os antigos, sem criar nada. Eles não vão a lugar nenhum assim. Aqueles que criarem ou tentarem fazer algo novo e moderno, e conseguirem acompanhar a evolução, acho que continuará sobrevivendo. Como eu disse, há muito tempo as pessoas falam que a arte circense vai acabar, mas até hoje ela continua firme. Hoje nós falamos em inglês, espanhol e italiano, pois para acompanhar a modernidade tem que estudar bastante.


Imagens: Acervo pessoal

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