Qual o caminho para a escola?

Representação em maquete de um circo, no Centro de Memória do Circo.

O dia amanheceu, abri os olhos e tudo o que vejo são lonas, não um teto convencional, mas sim pedaços extensos de um material vermelho. Tenho de ir à escola, mas estou em uma nova cidade e não estou matriculado ainda, fico feliz, pois a minha escola é aqui, dentro do circo. Me alongo e corro para o picadeiro, pois, minha mãe me chama para ensaiar, mas em seu o íntimo o que a preocupa é o meu desempenho escolar. Me chamo João, tenho 10 anos, e já passei por mais de 15 escolas só esse ano. A média, por ano, segundo dados da Câmara Legislativa, de escolas que uma criança circense passa chega a 20.

Já matriculado na escola, percebo que muitas das crianças já sabem ler, e estão aprendendo uma nova matéria que desconheço. A professora Lígia Penteado diz que: “Eles são crianças super inteligentes, algumas coisas que eles não tinham aprendido o reforço supriu a necessidade. No quarto ano, eles não sabiam fazer tabuada, não sabiam dividir, coisa que aqui a gente aprende no terceiro, mas eles não tiveram dificuldade em aprender.” Eu me pergunto se isso afetará o meu futuro de alguma forma, o atraso que sinto na escola. Leonardo Mendes, estudante de comunicação, aponta que: “Influencia negativamente a vida no circo porque a criança perde um tempo aonde deveria estar estudando e aprendendo coisas básicas e não nas ruas trabalhando como se fosse um adulto”.

Sobretudo, minha mãe percebe que a vida circense não é para mim, que preciso de uma escola fixa, mesmo com a nova lei, nº 6.533/78 que garante o direito à escola, pelo menos nas escolas públicas, só ter essa segurança não é suficiente. Seria necessário, que nós circenses pudéssemos ter um acompanhamento de uma escola itinerante e assim concluir a nossa formação de uma forma concreta e adequada, deixando minha mãe, enfim, despreocupada.

Texto e imagem: Thamiris.